Nasceu Antonio de Morais e Silva á 1 de Agosto de 1755, na cidade do Rio de Janeiro. Aí fez os seus estudos preparatorios, partindo em 1774 para Portugal a fim de matricular-se na Universidade de Coimbra.
Criticado pelos seus colegas universitarios, encheu-se Morais de vergonha, resolvendo estudar profundamente os classicos portuguêses, a fim de mostrar aos seus companheiros que, melhor do que eles, sabia e manejava a lingua vernacula.
“A ignorancia em que eu me achava das coisas da patria — escreve Morais no Prologo do seu Dicionario —, fez que lançasse mão dos nossos bons autores, para neles me instruir, e por seu auxilio me tirar da vergonha, que tal negligencia deve causar a todo homem ingenuo”.
Estimulado por tais ideias, atirou-se Morais ao formidavel trabalho de composição e organisação do seu glossario, e o fez com tal actividade que, em 1789, as oficinas de Tadeu Ferreira, em Lisbôa, publicavam a 1.ª edição do Dicionario da Lingua portuguêsa.
Perseguido pela Inquisição em Portugal, emigrou Morais para a Inglaterra, onde foi secretario do embaixador português Luis Pinto de Souza Coutinho, Visconde de Balsemão.
A rica biblioteca de Balsemão proporcionou-lhe oportunidade para se aperfeiçoar no estudo dos classicos portuguêsese dos melhores mestres da literatura latina, inglêsa, francêsa, alemã e castelhana.
Da Inglaterra passou-se Morais para a Italia, e depois para a França, onde se fixou como secretario da embaixada portuguêsa.
Em 1788 já se encontrava em Lisbôa, cuidando da publicação da sua Histeria de Portugal (1788) e do seu Dicionorio da Língua Portuguêsa.
Tendo se casado em 1794, teve de acompanhar o sogro para Pernambuco. Recusou nessa ocasião o cargo de juiz de fóra na Paraíba, aceitando, depois de uma viagem a Portugal, o lugar de juiz de fóra e provedor de ausentes, na cidade da Baía.
Empossado neste cargo, teve de abandona-lo algum tempo depois, por motivo de saude, passando-se novamente para Pernambuco, onde se dedicou á lavoura da cana de assucar no Engenho Novo de Moribeca.
Aí escreveu a sua Epitome da gramatica portuguêsa, que foi anexada á 2.ª edição do Dicionario.
Convidado a tomar parte na revolução pernambucana de 1817, negou o seu apoio ao movimento, que era contrario ás suas ideias realistas e conservadoras. Não é simpática e muito menos honrosa, a atitude que assumiu por ocasião da independencia. Absolutista em 1820, mostrou-se Morais francamente contrario á independencia de sua patria em 1822, tendo sido, por esse motivo, desacatado pelo povo de Recife. Continuando a ser hostilisado, viu-se na contingencia de procurar refugio em seu engenho de Moribeca.
Para maior relevo deste episodio, não devemos esquecer que Morais era coronel de ordenanças e já havia sido capitão-mor de uma vila pernambucana.
Agravando-se antigos padecimentos, veio Morais a falecer em Recife, aos 11 de Abril de 1824. Segundo Vieira Fazenda, “era caracter sevéro, probidade sem par; ótimo chefe de farnilia, dedicado amigo, humanitário cidadão”.
Varnhagen julga-o com menos benevolencia, achando-o “ríspido, demasiadamente sevéro, pouco insinuante e até dizem que repelente, pois era nimiamente franco para dissimular as faltas dos outros, e pelo contrario procurava corrigir lançando-lhas em vista”.
A pequena obra original e traduzida de Morais, desaparece diante da importancia e do inestimável valor do seu glossario. Como historiador e poeta, foi medíocre, mas como lexicografo, escreve Silvio Romero, foi o primeiro e áinda hoje o mais distinto da nossa língua.